Teimosa como nenhum outro ser vivo foi capaz de ser. Sentimental e chorona do início ao fim do meu viver. Confio e me apego com facilidade extrema a tudo e a todos, mesmo sem querer, mesmo sem poder.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Tantos recordes você pode quebrar...
Mais de seis meses se passaram, dia 28/06/2010 terminou meu tratamento.
E termina aqui também uma fase da minha vida...
É triste, doloroso, porém satisfatório lembrar tudo o que passei, de como tudo começou, de tudo o que eu senti e por ai vai...
Ai esses últimos dez meses...
Foram quatro meses de preocupação, de dores sem motivo, de pressão hiper baixa, de mal estar, de várias idas ao médico, de vários exames, e nada me constava. Muito cansaço, falta de ar, tosse pela noite, dores no peito, dores nas costas, cansaço, cansaço e mais cansaço, falta de apetite, febre, exames e mais exames e nada me constava. Depressão, dores de cabeça, desânimo, vontade de não fazer nada, vontade de morrer, auto-estima no chão, sono muito sono, um pouco de catarro, enjôo muito enjôo, suores repentinos, calafrios, tontura, cai a pressão quase desmaia... Hospital, glicose com mais alguns medicamentos na veia, alguns exames e nada me constava. Choro, choro e mais choro, eu rogava para Deus “Senhor me ajude, eu não sei o que está acontecendo comigo, mas me ajude Senhor.”
Minha fraqueza já estava ficando nítida para todos, mas eu não sabia o que se passava comigo. Já não conseguia mais ir para a escola, já não conseguia mais estudar, já não conseguia mais ir para o ballet, eu não queria fazer mais nada... Eu não queria mais viver.
Até que um dia quando tudo parecia normal e quando eu me colocava feliz e forte, pronta para tentar vencer a mim mesma... Sangue, sangue, sangue e mais sangue eu comecei a cuspir, eu tossia sangue, aquilo me deixou muito assustada e logo isso volta a se repetir, fomos imediatamente ao hospital.
Ainda consigo lembrar a carinha de preocupação da minha mãe olhando para mim... Na minha cabeça mil e uma coisas se passaram...
Fui atendida, contei meu caso clinico, a médica pediu uma radiografia do pulmão e POWPUMPOW!
Lá estavam as cavernas criadas pelos bacilos. Eu fui diagnosticada com TBC (tuberculose) no seu mais alto grau de gravidade.
Eu já suspeitava, minha mãe também, minha avó já sabia (ela tem um sexto sentido infalível) . Os meus sintomas e toda minha história clinica fizeram sentido quando eu comecei a expelir sangue.
Nesse momento me veio a seguinte pergunta: Como, quando e de quem eu peguei isso ? (a tuberculose é uma doença infecto-contagiosa).
O meu mundo caiu, sai do hospital de braços dados com a minha mãe e chorávamos muito e ela me dizia: “Calma Má, vai dar tudo certo, você vai ficar bem, a mãe está aqui com você... (como me dói lembrar isso, nesse momento já me ponho a chorar).
Eu já andava fraca e depois dessa noticia eu já não tinha mais forças para continuar. Nesse mesmo dia TODOS os sintomas já vieram muito fortes, eu estava acabada, nem remédio meu organismo conseguia absorver e eu sentia muita dor no pulmão (lado esquerdo).
No dia seguinte UTI, depois de um tempo fui para casa para iniciar o tratamento, houve tentativa de se iniciar o tratamento no hospital, meu organismo rejeitou. Depois de 2 dias tentamos novamente iniciar o tratamento e deu certo porém eu sentia todas as reações adversas da medicação... Sofri demais!
A fase do isolamento me machucou demais, mas também me fez enxergar quem é quem de verdade. (isso me dói até hoje).
Mas agradeço de coração por aqueles que não me abandonaram em nenhum momento. Minha mãe foi um anjo, foi a pessoa mais linda que eu já podia ter notado a existência. Não quero citar nomes, mas J; D; M; G e NP... Surpreendi-me com vocês, obrigado por todo o carinho e pela amizade verdadeira.
Meus dias eram do sofá para a cama e da cama para o sofá, fiquei dias sem falar, porque falar me cansava demais, falar um “OI” era como se eu tivesse corrido trinta quadras, tudo me cansava demasiadamente, nem no notebook eu conseguia mexer. Não conseguia me alimentar também. O medo que as pessoas sentiam de mim acabou comigo, eu me sentia um monstrinho.
Passei dois meses assim, como doeu...
Depois de dois meses melhorei um pouco mas ainda estava bem debilitada, sentia um pouco de TODAS as reações adversas da medicação (rifampicina, isoniazida e etambutol, eu nunca mais vou esquecer esses nomes rs*). Era uma alta dosagem deles por dia e detalhe eu tinha que ir TODOS OS DIAS ao hospital para tomar a medicação lá, porque o tratamento é super controlado e super rigoroso.
Aprendi demais indo ao hospital todos os dias, eu sempre quis ser médica e CUIDAR das pessoas, mas ter que ser cuidada e estar no lugar daqueles que eu sempre me imaginei cuidando foi uma experiência incrível, eu tive a oportunidade de estar no lugar do enfermo e saber o que é e como se sente a pessoa que necessita de ajuda e de cuidados.
Isso mudou meu pensamento com relação a situação médico – paciente.
A cada mês que passava era nítida a minha melhora, eu escutava muito “Nossa você está ótima, nem parece que está doente...”. Isso me deixava feliz!
O querer fazer as coisas e não poder (por conta do cansaço, do esforço físico e da ferida no pulmão que ainda estava aberta), nossa isso acabava comigo, eu ficava aguniada e muito triste e se eu era teimosa e tentava fazer algo morria de dor depois.
Voltei a comer e já estava comendo bem por sinal, aprendi a AMAR o suco verde e a me preocupar bastante com a minha alimentação, hoje em dia não consigo mais ficar sem salada, sem verduras e legumes e sem frutas rs*.
Aprendi a dar valor para tantas coisas, eu aprendi demais com essa tal TBC viu!? Rs* ... a experiência de quase morte é algo que mexe profundamente com o ser humano!
Três meses depois de ter iniciado o meu tratamento em um belo dia de sol, acordei como se nada tivesse acontecido... acordei como se eu estivesse completamente curada (Obrigada Senhor!)
Claro! Eu ainda não podia fazer nada, nenhum esforço e tudo mais, só me era permitido o REPOUSO! Eu hibernei várias vezes durante o verão, a medicação induzia o sono para forçar o repouso, eu ficava tão mole, tão grog rs*... Mas a sensação de se sentir bem depois de meses de muito mal estar e de desconforto foi algo impagável.
Aos poucos tudo foi voltando ao normal, os efeitos colaterais ainda era fortes e me incomodava muito, mas eu até já estava acostumando, até que mais um O PIOR DE TODOS resolveu surgir... NEUROPATIA.
Nossa essa parte foi cruel, existem estudos que falam que a dor que mais dói é a dor nervosa e pois é eu sentia ela e senti ela por muito tempo.
A minha mudança de País muito prejudicou o tratamento (eu fui muito teimosa em sair do Brasil antes do tratamento acabar, fora o que não passei e tive que fazer para conseguir a medicação para poder continuar o tratamento lá, porque essa medicação não se vende em farmácia e o hospital não pode dar ao paciente mais do que o suficiente para quatro dias e fora o medo que eu senti ao passar pela alfândega com grande quantidade de medicação sem a permissão da vigilância sanitária e sem a permissão do governo, ufa... ), a mudança de hábitos, de clima, de alimentação, o stress emocional, tudo ajudou ou melhor prejudicou.
Na Argentina eu mais fui em médicos e fiz exames do que estudei, mas eu tinha que terminar meu tratamento, fora que os remédios prejudicam a memória (eu parecia a Dory, do procurando Nemo), os remédios são quimioterápicos e ou seja eu ficava desesperada ao ver meus cabelos caírem (já imaginou eu careca!? Rs*), a neuropatia se agravou por conta do frio de Buenos Aires e quem falou que eu conseguia levantar da cama ? ibuprofeno de 600mg era como bala, de nada adiantava... Diclofenaco ajudava mais demoravaaaaaaaaaaaaaaaa.
Olha foi sofridinha essa parte da Argentina viu!? :/ Ainda mais porque eu estava sozinha para TUDO.
Mas tudo bem... É escada vencida degrau por degrau
ACABOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU, agora só falta fazer alguns milhões de exames e com fé em Deus vai dar tudo certo.
Tchau, Tchau tuberculose...
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